segunda-feira, 21 de abril de 2008

Fallen Angel


É uma dor que não consigo explicar. Prende-me os movimentos e arqueia-me as costas, não me deixando mexer. Uma dor constantemente agonizante que me tortura e me contorce. Facas que percorrem o meu corpo debaixo da minha pele.
Num momento de lacinante dor que me paraliza todo o corpo, sinto as costas a rasgar e o sangue a brotar como uma cascata quente que pinta o chão de vermelho rubro. Uma corrente de ar parece avançar de mim, percorrendo toda a redondeza. Sinto-me estranho... A dor passou...
Levanto-me devagar e sinto-me perder o balanço para trás. Após um momento de luta entre eu e o meu corpo, equilibro-me como se transportasse um fardo de batatas às costas e avanço de encontro ao espelho. A minha própria visão roubou-me o dom da fala, como se da Morte se tratasse.
São brancas como o marfim e têm um brilho próprio que ofusca tudo à sua volta. Estendem-se desde dois palmos acima da minha cabeça até aos meus tornozelos, compridas e longas. Numa tentativa de auto-domínio, descobri a maneira de as esticar para os lados. A sua envergadura é inimaginável... As suas penas são seda nas minhas mãos, com um ligeiro aroma a jasmim, apesar de terem sido banhadas com sangue. Sangue? Mas onde está ele? No chão apenas! Nelas, nem um sinal! Mas que magia é esta? Não... não é magia... é um dom...
Corro para a janela e atiro-me sem medo por ela, todas as entidades do ar a passarem por mim num torvelinho. Breves segundos passam antes de eu as esticar inteiramente para os lados e sentir a força do atrito a impedir-me de cair. As correntes de ar elevam-me no ar e sigo como um pássaro, batendo com força, impelindo-me para a frente com força. O vento frio percorre o meu corpo em ondas, gelando-me por fora enquanto o esforço me aquece por dentro. É um misto de sensações que me deixa ébrio de sentimento. Liberdade.... Finalmente...
As minhas asas trazem-me liberdade e posso finalmente voar para longe dos problemas... Um anjo caído na terra, incompreendido mas finalmente livre.

13 comentários:

Kath disse...

É "lancinante". Era bom voar, não era? Fugir daqueles que nos enleiam à sua vontade, ou que, pelo menos, tentam, para depois nos deixarem por terra, banhados em mágoas e infelizes.

Nheca.

PayNe disse...

Que desejo maior poderei eu ter se não voar como um pássaro? Quando era puto pensava isso a maior estupidez que podia existir, mas agora é o meu desejo mais íntimo... Tornar-me um anjo livre que se possa desenvencilhar das rédeas da vida terrena...

Kath disse...

A isso chama-se morrer. O que vale é que há âncoras que nos prendem, para o bem, porque sem elas andávamos mesmo à deriva.

Hélia Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PayNe disse...

Morrer.....
Talvez.... Mas... sendo assim eu desejo a morte... hhmm.... fazes-me tirar conclusões estranhas...

Hélia Pereira disse...

Sou assim... Acho que o mundo é demasiado cruel comigo, que afinal eu não fiz mal a ninguém e a vida só me apunhala pelas costas. E acho que tenho o dom de me tornar invisivel. Porque mesmo rodeada de pessoas a minha volta consigo desaparecer sem minguém dar pela minha falta. É um pouco como tu dizes, acho que sou como um utensilio. As vezes ate dou geito para os outros. De resto passo o tempo num escuro armario. Só

Hélia Pereira disse...

" "Não sei, porque eu? Há tantas pessoas más
Porque eu é que sou a deprimida
Choro, fico só e angustiada"

Pergunto-me isto todos os dias, e todos os dias não encontro resposta..."

É para mim impossivel compreender o porque da minha magoa, por muito que ela me doa no peito. Já me disseram que o meu mal de sentir demais, de me preocupar demais. Porque afinal as pessoas mais "normais", se calhar não se questionam tanto como eu, não sabem sentir aquilo que os rodeia como eu: mais despreocupadas e felizes.

Mas como eu não sou assim, resta-me dizer a mim mesma "porque eu, sera que mereço isto"
....

Hélia Pereira disse...

"Porque a minha alegria é a alegria dos que me rodeiam... Um ciclo vicioso que não posso controlar e que nunca me deixará completamente feliz..."

O problema é que ninguém é completamente feliz, por isso dependendo a nosse felicidade da dos outros, nunca vamos ser felizes. Vamos estar constantemente mergulhados nas magoas dos outros fazendo delas as nossas, para continuar-mos um pouco mais a sofrer e a amaldicoar o mundo. É sem duvida um ciclo vicioso. O objectivo principal é encontrar um equilibrio no meio desse turbilhão de pensamentos, para a felicidade propria. Contudo ate agora foi para mim impossivel isso. Não sei porque, mas continuo a procura de uma resposta...

Hélia Pereira disse...

"If you want to save her then first you have to save yourself..."

esta expressão é de quem? ou é de uma musica...

^^

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Eu também quero voar!!!!!

Sentir que livre vivo na alegria que parece fugir de mim, como um rio que corre sem regresso, distanciando-se. Posso tentar alcançá-lo mas acaba por se diluir no grande mar, para sempre perdido nos seus recônditos profundos...

O texto está lindo, Senhor das Trevas ^^

PayNe disse...

Muito obrigado Senhora dos Corvos! ('u')
Seria um prazer ajudá-la a voar, se ao menos eu soubesse o segredo.... Mas prometo um dia partilhá-lo com todos vós, se o descobrir! :D

Aproveito para dizer, que o próximo Grito de Agonia é um excerto da peça que estou a ensaiar no meu workshop de teatro. Espero que gostem tanto dele como eu! :)

Hélia Pereira disse...

xdeu gosto de HIM, só nao conheço muitas musicas...mas esta esta muito linda...vou arranjar

^^

Francisco Norega disse...

Hey Payne! Excelente texto!