segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Noite (que és tu)

Vejo em ti a noite
ou será a noite que vejo em ti?
Tu és noite e a noite é em ti.

Tens ébano como ela e ela tem os teus olhos. Sim. São cópias as luzes dela, meras cópias sem fim.
Ela traz-te a mim, tu és nela
E ela em ti.

Olho para a lua e não a vejo. É uma violeta que paira no céu. E as sombras nas curvas são as tuas. Aqui e ali és tu, estás comigo, mesmo longe. Chegas a casa quando te elevas no céu, áurea, argêntea. E eu recebo-te de braços abertos e um fogo no meu peito.

Levo-te a passear pelas tuas curvas e olho-te com novos olhos. Na escuridão clara está o teu rosto e depois o teu sorriso. Mais tarde, no breu, vejo-te ainda. Mas segues à minha frente e a tua prata se não mostra.

Guardo-te num quarto de dossel e veludo. Quente, com pêlo lanudo. Dá-me um cadeirão em ti, à tua frente. Não quero passar sem ver-te.

A noite que és tu.

Ao Inverno

Escuro. Um manto de cobalto que me rodeia. Oiço os motores rugindo à minha volta e pairo com mil estrelas. Áureas e brônzeas na escuridão, não marcam caminhos. Espalham-se indefinida e aleatoriamente, um mar sem fim, sem ondas. Não temente, viajo por meio delas passo e o vento que voa nos meus cabelos e me traz o inverno.

Traz não, leva-mo.
Para longe, para longe...

Não vás! Fica. Adormece-me com teus braços profundos. Acolhe-me, frio assombroso que gela a alma, que me dás abrigo na noite escura da civilização desalma. Não olho para trás e ele segue, surdomudocego a preces e todas as messes, sua jornada contínua, sempre libertina, o frio que vai embora e gelado me deixa. Anseio por seus braços já, enquanto ainda está.

Vergasteja o meu rosto, abre-me os lábios e os olhos! Envolve-me em teu vento, rodopio frio sem brio o teu poderio. Dá-me a tua justiça, fortalece-me!

O Inverno está a chegar. O Inverno já foi.


E agora tremo de frio.